Na próxima época que classificação conseguirá o FC Paços Gaiolo?

domingo, 9 de novembro de 2008

MJA - Modelo Jogo Adoptado

O primeiro passo de um treinador: Definição do Modelo de Jogo. O que é o modelo de jogo? Creio que, ao nosso nível, o Modelo de Jogo deve ser elaborado por um conjunto vasto de pessoas, sendo de primordial importância que todos os técnicos do clube sejam ouvidos e tenham poder de intervenção. Mas a estes, deveremos juntar todos os outros intervenientes do clube, a quem possamos reconhecer capacidade de intervir até porque cada clube tem características muito próprias, resultado da sua história, das suas condições estruturais, das suas ambições, da sua estabilidade financeira e directiva (ou falta dela …).
O que se deve incluir no modelo de jogo?Sendo o modelo de jogo o conjunto de princípios que conferem organização e são fundamentais para darem sentido à nossa equipa, devemos especificar esses princípios:1) A ideia dos intervenientes (treinadores e outros como já foi referido na resposta à 2ª questão: quem define o modelo de jogo?);2) Princípios e sub-princípios de jogo que conduzam à organização funcional da equipa;3) Características dos jogadores;4) Organização estrutural.
1) A ideia dos intervenientes:Será necessário aqui definir as linhas gerais do modelo de jogo. Que tipo de jogadores? Que objectivos de equipa? Que ambições? Que condições físicas e estruturais possuímos? Que tipo de futebol praticar (impositivo ou de contenção)? Que atitude competitiva dos atletas? Que tipo de organização colectiva?
2) Princípios e sub-princípios de jogo:Neste capítulo, é essencial definir o que cada jogador e a equipa têm de efectuar nos momentos de jogo: organização ofensiva; organização defensiva; transição ataque-defesa e transição defesa-ataque.É aqui que se devem descrever os comportamentos individuais e colectivos, aquando do ganho e da perda de bola e respectivos momentos de transição, nomeadamente: a definição da(s) linha(s) de pressão (decisiva para perceber, por exemplo, se se irá privilegiar o ataque apoiado e em segurança ou o ataque rápido/contra-ataque - uma linha de pressão alta com ganhos previsíveis no último terço do adversário não faculta espaço suficiente para se poder desenvolver contra-ataque; ao invés, uma linha de pressão mais “curta” impede “campo comprido” ao adversário, mas também à nossa equipa para desenvolver ataque organizado); o tipo de marcação ao adversário nas diferentes zonas do campo (em que zonas jogamos em marcação à zona, em resultado da inferioridade numérica – comum no primeiro terço do adversário que joga, normalmente, com 4 defesas contra os 3 avançados do “nosso” 1-4-3-3 - e em que zonas assumimos a marcação individual por nos encontrarmos em superioridade numérica em relação ao adversário – comum no nosso primeiro terço do campo pelo factor inverso do atrás expresso); a atitude mental dos atletas (rapidez na mudança de atitude defender/atacar e atacar/defender); o método de jogo ofensivo privilegiado (ataque apoiado e em segurança; ataque rápido/contra-ataque; futebol directo; …)
3) Características dos jogadores:Esta é uma das condições fundamentais para a definição do modelo de jogo e, dependendo do momento dessa definição, esta condição terá nuances diferenciadas.Assim, se a definição do modelo de jogo é elaborada antes da constituição do plantel, as características dos jogadores devem ser aquelas que melhor servem o modelo de jogo definido. Quando o modelo de jogo é elaborado depois do plantel estar concluído, é o modelo de jogo que terá de ser definido de acordo com as características dos atletas, tendo sempre presente que, no que ao ponto anterior diz respeito (princípios e sub-princípios de jogo), estes deverão estar sempre acima dos interesses/características individuais dos atletas, pois são a identidade do modelo de jogo que se elaborou com base nas características do clube e que deve ter sempre, e em qualquer circunstância, como uma das suas características principais e fundamentais a sobreposição do interesse colectivo face ao individual!
4) Organização estrutural:Aquilo que vulgarmente é, de forma incorrecta (como veremos a seguir), definido como sistema táctico, e que muitos entendem como o mais importante e até redutor quando definido enquanto modelo de jogo de clube, não deverá ser entendido dessa forma, na medida em que deverão ser definidas não só uma organização estrutural principal mas também uma outra alternativa, que, em alguns escalões, poderão ter a ordem invertida (e até mesmo ser adaptada) em função do ponto anterior - características dos jogadores. Assim, para além da definição da organização estrutural inicial e alternativa (os já referenciados sistemas tácticos que vão do tradicional 1-4-3-3 ao agora na moda 1-4-4-2 em losango, passando por outros que, ao serem definidos por alguns dos nossos comentadores, mais parecem números de telefone, como o 1-4-2-3-1), dever-se-ão definir: a forma como esses sistemas se adaptam aos vários sistemas tácticos que os adversários podem apresentar (jogando em 1-4-3-3, quem faz a marcação ao segundo ponta de lança adversário se a equipa opositora se apresentar em 1-4-4-2, por exemplo); as características individuais dos diferentes atletas por posição (por exemplo: que laterais pretendemos em função do nosso modelo de jogo - se são eles a fazer a marcação ao 2º ponta de lança deverão possuir como característica principal, a boa ocupação do corredor central e um bom sentido de marcação, mas se pretendemos que sejam eles a criar, ofensivamente, superioridade no seu corredor, já deverão possuir, como principal característica, um “bom pulmão” e elevada capacidade técnica, nomeadamente no gesto técnico cruzamento; no caso dos médios e no clássico 1-4-3-3, que triângulo vamos apresentar (1+2 ou 2+1); quem faz as compensações; quem executa, preferencialmente, os movimentos de ruptura; nos avançados, que movimentação preferencial se pede aos que actuam nos corredores; o ponta de lança deverá actuar de forma mais vertical, em apoios e sempre no enfiamento dos postes da baliza, ou deve procurar os corredores laterais, permitindo o aparecimentos dos outros dois avançados e/ou médio (s) ofensivo (s) no corredor central; …), linhas de passe (por atleta, em função do tipo de organização ofensiva definida - se queremos ataque apoiado em segurança, teremos de definir o passe curto como o mais adequado, exigindo, ainda assim, a obrigatoriedade, ou não, de mudança de zona e/ou corredor, mas se privilegiarmos o ataque directo teremos de definir linhas de passe mais longas e em ruptura) e movimentações colectivas preferenciais (por exemplo: mudanças de ritmos e de flanco, aquando do ganho da posse de bola, conseguindo com isso a criação de superioridade nos corredores ou o fecho de linhas de passe em largura e em profundidade, logo após a perda da posse de bola); jogadas estratégicas (da bola de saída aos vários livres – frontais, laterais, pontapés de canto – passando pelos lançamentos laterais);Resumindo: da mesma forma que jamais conseguiria escrever este texto, sem anteriormente ter definido os princípios a focar e a desenvolver, não consigo entender aqueles que conseguem treinar e jogar, sem primeiramente definirem, exporem e aplicarem um modelo de jogo, definindo, de seguida, um conjunto de exercícios que, indo ao encontro do modelo de jogo definido, o consubstanciem.
“Se queres fingir desordem para convencer os teus adversários e distrai-los, primeiro tens que organizar a tua ordem, porque só então podes criar um desordem artificial” – Suntzu “A arte da Guerra” – sec. IV a.c.

João Bento - treinador de Futebol (http://futebolviseu.blogspot.com/)