Na próxima época que classificação conseguirá o FC Paços Gaiolo?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Futebol/futsal: entrevista ao Microfonenet (José Peralta)

Entrevista a Rui Rebelo


Deixaste o futebol?
Sim. Deixei o Futebol, enquanto treinador, em Fevereiro de 2010, quando eu e o meu colaborador Sandro Lage apresentámos a nossa demissão ao presidente do G.D.Resende. Os resultados desportivos estavam a ser muito positivos, mas o clube tratava o grupo de trabalho com bastante falta de respeito e de dignidade, no sentido em que não nos proporcionavam as mínimas condições de trabalho.

O que te dá mais gozo, treinar equipas de futebol de onze, ou futsal?
O que me dá mais prazer é vencer desportivamente, seja no Futsal ou no Futebol. Tudo depende do contexto em que estou inserido, mas, enquanto treinador, o que gosto é de ganhar, aliás a principal motivação de um treinador são as vitórias.

O porquê de este ano não treinares nenhuma equipa?
Essa decisão, de não treinar nenhum clube, foi tomada logo em Fevereiro, quando saí do Resende. Depois do que passámos e aguentámos, nessa época, fiquei completamente saturado… de treinar.

Houve convites?
Tive dois convites formais durante o Verão: 1 para o Futebol e outro para o Futsal. Por uma questão de respeito não vou mencionar os clubes em causa. Recentemente, em Novembro, surgiu outro convite também para o Futsal, mas a minha resposta foi sempre negativa e justificada com a saturação e falta de motivação.
Porque voltaste ao S. Martinho de Mouros?
Quando, em Novembro de 2008, saí para o Resende, estava a jogar no SMM depois de, anos antes, ter sido treinador principal. Voltei na procura do prazer e satisfação que o Desporto a este nível me proporciona. Faço parte da direcção e quando estiver totalmente recuperado de uma intervenção cirúrgica que fui submetido, irei também jogar. O SMM tem um projecto desportivo singular no Concelho de Resende e deveria ser mais apoiado. O SMM está uns anos à frente comparativamente à forma como se tem gerido os clubes em Resende.

Ainda acreditas no futebol em Resende?
Acredito sempre. Os clubes têm de acompanhar o desenvolvimento e a evolução das sociedades e isso não tem acontecido com o Futebol, no nosso concelho. Não tem havido sensibilidade para a percepção correcta da complexidade do fenómeno Futebol. Ao nível da gestão de clube, da definição de objectivos/planificação…estamos décadas atrasados em relação a alguns concelhos similares ao nosso. A principal razão é a falta de conhecimentos técnicos e específicos nesta área de grande complexidade. A responsabilidade não é só de quem tem gerido os clubes da modalidade, mas sim de todos nós que directa ou indirectamente temos, também, responsabilidades. No entanto, estamos num país onde todos acham que sabem imenso de Desporto, principalmente de Futebol! Vem aí um estádio novo e penso que o clube deve crescer de forma a estar ao nível do seu estádio. Há em Resende muita gente competente para fazer crescer o GDR. Quando digo isto não me refiro apenas àqueles que têm formação académica, mas também a outros que são pessoas do Futebol.

Na tua opinião o que se está a passar este ano com o GDR?
Sinceramente acho que os péssimos resultados desportivos não espelham o trabalho e o esforço da direcção. Começaram muito bem: a abertura da sede foi, na minha opinião, do melhor que aconteceu ao clube nos últimos anos. Depois, ao contrário do que se previa, conseguiram renovar com quase toda a equipa da época anterior, ao mesmo tempo contrataram 1 treinador certificado e com provas dadas no vizinho Zezerense (Sta. Marinha do Zêzere) que trouxe consigo alguns reforços. Esta conjuntura apontava para a realização de 1 campeonato na luta pelo 1º lugar, tendo em conta os resultados positivos do ano anterior. No entanto, as primeiras derrotas deitaram tudo a perder e as coisas complicaram-se.

Sentes saudades de treinar o GDR?
De estar a desempenhar as funções de treinador, não sinto quaisquer saudades, muito pelo contrário. O que sinto é alguma nostalgia de liderar um grupo de grandes homens, resendenses, que contra todas as expectativas conseguiram formar uma grande equipa de Futebol, sinto saudades do nosso espírito de balneário e da forma como juntos lutámos arduamente para conseguir os nossos objectivos, sinto saudades da forma diferente como sentíamos as vitórias, principalmente naquela fase de início da 2º volta em que estávamos apenas a 1 ponto do 1º lugar, chegámos a sonhar como é óbvio. É importante relembrar que no período pré-competitivo (pré-época) alguns adeptos “velhos do Restelo” agoiravam que nós, com uma equipa de juniores e com outros atletas que estavam a jogar federados pela 1ª vez, iríamos bater o recorde mais negativo da história do G.D.Resende…num ano em que o clube conquistou apenas 6 pontos. Foi uma época que será inesquecível para todos os que pertenceram aquele grupo. Foi um trabalho que me deu imensa satisfação fazer: a construção de uma equipa de Futebol, mas principalmente de um grupo muito coeso dentro e fora do campo.

É justo referir que não o conseguiria sem a ajuda do meu grande adjunto Sandro Lage e mais tarde, embora noutras funções, do Ismael. Mas o maior mérito vai claramente para os grandes “guerreiros” que eram os nossos jogadores. A maioria deles está esta época no Resende e são alvo de muitas críticas, o que mais uma vez demonstra que as pessoas são injustas e que no Futebol a memória é muito curta. Fico triste com algumas coisas que vou ouvindo...sobre jogadores que tanto deram e lutaram pelo clube.

Academia de Futsal: Resende merece esta aposta?
Claro. É a aposta num “produto” que não existe, nestes moldes, no concelho. Basicamente é olhar o Futsal como um processo de ensino/aprendizagem, e ao mesmo tempo utilizar o Desporto para a formação global das crianças e jovens. Embora nem sempre reconhecido, o Desporto pedagogicamente orientado tem imensas potencialidades educativas.

O que te levou a trabalhar neste projecto?
É uma ideia minha e do meu amigo Zé Fernando, (treinador de Futsal do SMM) que já tem uns 4 ou 5 anos. Recentemente foi impulsionada por outro amigo comum aos dois que tem um filho de 4 anos.

Porque não trabalhas num pavilhão municipal com academia?
Quisemos que esta iniciativa não estivesse, para já, associada a nenhum clube ou associação. Se assim fosse as taxas de pavilhão municipal eram exequíveis. No entanto, sendo um projecto particular o preço de cada hora de pavilhão é muito caro, o que tornaria inviável o projecto se optássemos por uma instalação desportiva municipal.

Achas que as pessoas de Resende estão viradas para a vertente futsal?
O Futsal é a modalidade que mais cresceu nos últimos anos. É também a segunda mais praticada no nosso país, logo a seguir ao Desporto Rei – Futebol. Há muitas razões para este crescimento em tão pouco tempo. O facto de ser praticada sem chuva e vento é um factor que tem contribuído muito para que crianças e jovens a queiram praticar; outro aspecto importante é a cumplicidade existente entre o fair-play e o Futsal; a meu ver o mais importante é o elevado número de vezes que a criança tem contacto com a bola em relação a um jogo de Futebol de 11 ou mesmo de 7. Uma criança de 9 anos durante uma partida de Futebol 11, quantas vezes toca na bola? Certamente que poucas comparativamente ao Futsal, que acaba por ser uma espécie de jogo reduzido onde o praticante está sempre em acção. Estas e outras razões têm contribuído para que também os Encarregados de Educação vejam com bons olhos esta prática desportiva.

Tem havido muitos contactos da parte dos pais a perguntar como vai funcionar?
Várias pessoas nos têm abordado e manifestado a intenção de participação dos seus filhos.

Pediste apoio à autarquia?
Não pedimos apoio. Falámos sobre a possibilidade da utilização do pavilhão municipal. Verificámos que o preço era muito elevado para uma iniciativa particular. Fomos bem recebidos e percebemos que há que respeitar o regulamento da instalação desportiva em causa.

A academia vai funcionar num pavilhão que não é público?
Sim, vai funcionar no Pavilhão Desportivo do Externato D. Afonso Henriques, cá em Resende. Apresentámos o projecto ao Sr. Padre José Augusto e tivemos a possibilidade de usar o Pavilhão do Externato, o que muito nos agradou. É assim o nosso único apoio.

Como vai funcionar?
Para já através de aulas/treinos que funcionarão nas manhãs de Sábado, com início a 8 de Janeiro às 10.30h. A população alvo, são as crianças e jovens entre os 4 e 14 anos e em função do número de alunos interessados, efectuaremos a divisão dos escalões etários, o que pode originar aulas/treinos em horas diferentes, mas sempre ao Sábado de manhã. Se o projecto crescer, como estamos a pensar, poderemos, mais tarde, entrar em competição de forma a aumentar, ainda mais, a motivação dos praticantes.

Como podem os pais contactar academia?
Pessoalmente comigo ou com o Zé Fernando ou através dos seguintes contactos:
Blog: http://www.academia-futsal-resende.blogspot.com
E-mail: academia.futsal.resende@hotmail.com
Telemóvel: 91 325 61 91

Resta-me agradecer a oportunidade de divulgação da Academia Futsal Resende e pedir desculpa por ter demorado tantos dias e devolver o e-mail com as perguntas da entrevista. Já agora também queria dar os parabéns pelo blog Microfonenet.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

"Ciclismo": Feliz Natal...

Futebol: "Trinco"ou Pivot defensivo! (Carlos Carvalhal)

"Trinco"ou Pivot defensivo! Um olhar por dentro do campo...Como é que as características de um jogador na mesma posição no campo revelam a ideia de jogo do treinador?

Fiz quase toda a minha carreira futebolística como defesa central! Esporadicamente joguei como defesa direito e fiz metade de uma época como “trinco”.
Pelo facto de experimentar esta posição tenho uma ideia muito clara sobre as dificuldades que sente um defesa central a desempenhar essa função! Sente-se cómodo no processo defensivo. Tal como na sua posição de base, está na maioria do tempo de frente para o jogo, podendo assim ter uma visão global, que lhe permite estabelecer com facilidade relação defensiva com os seus colegas do meio campo e ataque. O seu habitat é também no corredor central, percebendo por isso a importância que a ocupação deste espaço tem, para que não surjam adversários neste local, especialmente com bola controlada e de frente para os defesas centrais (não pode abandonar este espaço sem ter quem faça essa compensação espacial)

No processo ofensivo, posiciona-se à frente dos defesas centrais e numa linha mais baixa relativamente aos outros médios. Por não ter hábitos relativos ao desempenho desta função táctica (posição), tem dificuldades em fazer recepções da bola orientadas para a baliza adversária e como tem também constrangimentos na recepção com adversários nas suas costas, a tendência é jogar muito perto da linha defensiva para que receba a bola sem qualquer tipo de pressão e de frente para o jogo. Procura jogar simples, a um ou dois toques, entregando a construção do jogo aos outros médios, ou escolhe a linha de passe mais fácil, para os defesas laterais ou centrais. No fundo está mais preocupado com o momento da perda da bola e com os equilíbrios do que com a construção do jogo.

Esta última ideia marca toda a diferença! O pivot defensivo pode-se caracterizar por ser um construtor de jogo! Para além disso, deve ser um jogador que se quer bem posicionado defensivamente, solidário e que faça os devidos equilíbrios e compensações espaciais.

Tenho a noção exacta que este tipo de escolha tem muito a ver com os jogadores que temos à nossa disposição e com os equilíbrios que pretendemos para a nossa equipa, mas também com a ideia de concepção de jogo do treinador. No entanto, interessa reflectir sobre a evolução do futebol, e esta é uma posição central numa determinada forma de ver e “sentir”o jogo! Há uns anos a presença de um “trinco” era vista como imprescindível, penso que esta escolha esteve sempre relacionada com a visão “física” do jogo! Alguém forte fisicamente que acima de tudo destruísse o jogo adversário e que assegurasse as compensações defensivas. No fundo mais um defesa, só que a jogar no meio campo.

Numa perspectiva mais evoluída de jogo vemos este jogador em equipas que são muito ofensivas, nas quais os seus defesas laterais são importantíssimos na dinâmica ofensiva, assumindo assim ( o "trinco") um papel de “equilibrador” do jogo. Numa perspectiva mais redutora, em equipas de menor nível, vemos este jogador como mais um para procurar destruir o jogo adversário, ou seja um “destruidor” de jogo.

Vão perceber porque comecei este artigo por expor as minhas dificuldades ao passar de defesa central para trinco! É que temos assistido a um fenómeno, na minha opinião evolutivo, de “transformação ” das características dos jogadores desta posição! É que na falta de jogadores com características de base para esta função, começam os médios de transição a desempenhar esta posição de pivot defensivo. Evidentemente que nem todos os médios de transição o podem fazer, até porque exige um conjunto de características específicas: sentido posicional, visão de jogo, solidariedade, facilidade de fazer recepções orientadas, capacidade de mudança de centro de jogo com passe curto e longo, entre outras.

Lembra-se das dificuldades sentidas pelo “trinco”? O pivot defensivo resolve-as com facilidade! Não se encosta à linha defensiva na construção porque está habituado a fazer recepções orientadas e a conviver com a pressão de adversários por perto! Desmarca-se para poder receber a bola ou larga o espaço para que outro colega a possa receber nesse local! Se tem espaço faz condução em segurança em direcção à baliza contrária para atrair adversários e assim abrir linhas de passe! Pelo hábito, joga mais para a frente, procurando linhas de passe nos extremos e avançados, para que os seus parceiros do meio campo possam receber a bola de frente vinda daquele, etc.

No fundo estamos a falar de dinâmica posicional, que é tanto maior, quanto melhores a capacidade e as características do jogador que ocupa esta posição. Pedro Mendes é um jogador que se enquadra naquilo que referimos atrás. Foi muito tempo médio de transição, neste momento é para mim, talvez o melhor pivot defensivo português. No último jogo da selecção Portuguesa muitos levantaram a questão: Pepe (trinco) ou Raul Meireles (pivot defensivo)? Nunca tive grandes duvidas na escolha de Paulo Bento para estes jogos, é que Paulo Bento foi… um verdadeiro pivot defensivo!

Por isso afirmo, diz-me com quem jogas a 6, digo-te como pensas o futebol…

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Futebol: Jair (ex G.D.Resende 08-09) de regresso ao futebol do distrito


Paulo Jorge, conhecido no mundo do Futebol por Jair, cabo-verdiano, a residir em Portugal desde 1991, tem 32 anos e já percorreu inúmeros clubes. Fez as camadas jovens no Boavista, seguiu-se uma experiência no Desportivo da Corunha e fez ainda parte do plantel do Desportivo de Chaves na última vez que os transmontanos estiveram na 1ª liga. Contabiliza igualmente algumas internacionalizações pela Selecção nacional de Cabo Verde.

A sua carreira tem sido praticamente feita em clubes das divisões nacionais, já jogou no Sporting Lamego, Tondela, Nogueirense e até mesmo em clubes Açorianos. Por questões familiares, nas últimas épocas, tem privilegiado a proximidade à sua área de residência (zona do Porto) e assim tem jogado no distrito de Viseu: em 2008/2009 chegou ao Resende em Dezembro, e apesar da descida de divisão foi o melhor marcador da equipa. No ano seguinte, 2009-2010 esteve no Parada de Ester.

Jair um jogador polivalente, mas a sua posição é a de ponta de lança. A sua elevada estatura permite-lhe um fortíssimo jogo de cabeça. Ao mesmo tempo, tem grande facilidade de mobilidade na frente de ataque. Como a sua vida foi sempre o Futebol e como se dedica ao treino a 100% tem uma resistência extraordinária, só ao nível de atletas do Futebol profissional.

Durante o Verão surgiram vários convites, nomeadamente de clubes da 2ª nacional (antiga 2ª B), mas para zona sul, o que inviabilizou o sim do atleta. A sua, já longa experiência, fez-lhe perceber que seria melhor esperar por “Dezembro” para poder jogar mais perto de casa, uma vez que os resultados promovem alterações nos planteis das equipas. Sabemos que Jair estuda, neste momento, algumas propostas para regressar ao nosso distrital, quer de clubes da divisão de honra, quer da 1ª norte. Os bons atletas são sempre vem vindos a Viseu.
 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Futebol_A especificidade ou Especificidade? (Carlos Carvalhal)


Estranho ler este título! Qual a diferença entre especificidade ou Especificidade? A palavra é a mesma, mas o facto de uma estar em maiúsculas traduz a sua singularidade. Já vamos perceber o porquê…
Muitas vezes lemos nos jornais ou ouvimos na rádio, o jogador X voltou ao trabalho juntamente com os colegas mas apenas realiza trabalho específico!

Quando se referem a trabalho específico, estão a dizer que o jogador cumpre um plano de integração sobre o ponto de vista da sua condição física, muitas vezes adicionada também a componente técnica!

Estas abordagens levam-nos a reflectir e a viajar sobre os fundamentos de diversos tipos de periodização aplicados na modelação de equipas.

Para quem está num comprimento de onda em que entende que a melhor forma de preparar uma equipa é fazê-lo com uma atomização das diversas componentes (física, técnica, táctica e psicológica), trabalhando-as separadamente, acreditando que a melhoria de cada uma delas poderá significar a melhoria das capacidades no seu todo. Aqui, trabalho específico é a tentativa da melhoria das capacidades dos jogadores sob o ponto de vista físico e técnico, para que depois se possa integrar estas componentes de forma a melhorar a equipa. Acreditam que a melhoria separada destas capacidades manifestando-se “por si” possa significar acréscimo qualitativo no todo.

Esta visão está claramente ligada à visão Cartesiana que influenciou todas as áreas do conhecimento nas últimas décadas. Foi este o tipo de periodização que ainda senti no corpo enquanto jogador. Pré-épocas duríssimas sob o ponto de vista físico, trabalho geral nas primeiras semanas (bola…nem vê-la), e depois a incorporação dos aspectos tácticos, uma vez por semana, através de exercícios de 11x11 no campo inteiro.

Com o passar dos anos (ainda como jogador), começou a “moda” do treino integrado. Era moderno treinar com bola, quem o fizesse estava num plano evoluído! A bola começou a estar presente na maioria das unidades de treino. Muito mais agradável para nós jogadores, a motivação para o treino era claramente diferente! Mas a bola era fundamentalmente um acessório porque no fundo a preparação e a utilização da bola visava sempre a melhoria de alguma capacidade física. Resumindo, a bola era utilizada fundamentalmente para treinar a componente física, estavam sempre condicionados por esta visão, pela vertigem do lado físico do jogo! Fazer corridas de condução da bola de 80 e 100 metros, ou fazer saltos sobre a bola era usual!
Nesta dimensão, falar de treino específico, quando um jogador regressa ao trabalho, através de corridas com bola, para melhorar aspectos técnicos balizados por uma qualquer capacidade física, faz todo o sentido.

Começo enquanto treinador no Espinho, na 2ª liga. Trago comigo 20 anos de experiência como jogador. Jogador que vivenciou algumas mutações metodológicas e que sempre colocou questões! Inconformado com a maioria das respostas… com o sentido crítico apurado, fui formulando um pensamento diferenciado! Nem melhor nem pior, diferente!

Como era possível dizer-se que era necessário um período de preparação de 6 a 7 semanas no mínimo, e com 3 de preparação geral, se eu estive a jogar numa equipa de alto nível (entenda-se aquelas que jogam para ganhar todas as competições), na qual ao fim de uma semana estávamos a competir num torneio internacional com as melhores equipas da Europa e o objectivo era só um… ganhar! Depois deste torneio, jogos de 4 em quatro dias até ao primeiro jogo oficial, ainda com o mesmo objectivo – ganhar! Deu para reflectir…

Outra coisa me inquietava! Se a ideia era preparar uma equipa para jogar futebol, porque é que não se preparava o jogo a jogar…

Existem por vezes momentos na nossa vida que são importantes na forma como estruturamos o nosso pensamento.

Enquanto dava os meus primeiros pontapés na bola no meu bairro, paralelamente estudei numa escola de música dos 6 aos 10 anos. Para falar verdade não gostava mesmo nada das aulas de música, eu adorava jogar futebol. No entanto, reconheço que a música é e foi importante na modelação da personalidade.

Tinha que estudar música e praticar um instrumento! Desta experiência, recordo-me que tínhamos que fazer dois concertos, um pela altura do Natal e outro no final do ano. Não me lembro de ter que fazer preparação física para tocar, treinávamos a tocar! Mas o ensinamento mais importante que recolhi foi o facto de perceber que o solista era muito importante, mas se não estivesse coordenado com o resto da orquestra, de nada valia. Mais ainda, para que a música saísse com afinação e harmonia, eram importantíssimos os timings de entrada de cada um. Isso exigia ligação e coordenação com os demais membros da orquestra, todos estavam ligados por uma ideia (pauta), que no fundo tinha uma forte componente emocional dada pelo “soul” da música no seu todo.

Outra ideia que considero um ensinamento dessa altura, era o facto de ser tão importante o xilofone, ou o tambor, como também o violino ou o piano. Talvez alguns instrumentos se assumissem e destacassem aos ouvidos das pessoas, mas para existir harmonia, e no fundo para que existisse música, todos tinham a mesma importância para o chefe de orquestra. Sem dúvida nenhuma, o Todo era claramente muito mais do que a soma das partes…

Eu queria jogar futebol a toda a hora, em todos os momentos livres divertíamo-nos a jogar no campo da escola e lembro-me perfeitamente de pensar… o jogo é como a orquestra!

Quando entrei para a Faculdade tive o privilégio e a felicidade de ter como regente da cadeira de futebol o professor Vítor Frade e encontrei respostas para as minhas inquietações. Viajei pelo mundo da Complexidade, da teoria do caos, do caos determinístico, dos fractais, etc.

Começo por aqui, para dizer que esta viagem confirmou o que é uma ideia comum. O futebol é realmente um jogo muito simples e por ser tão simples é que é complexo!

Modelo as minhas ideias e descubro um caminho, começa a vida de treinador! Não copiei absolutamente ninguém e faço o meu próprio caminho.
A ideia de complexidade faz todo o sentido no futebol! O jogo é caótico na sua natureza. A “ordem” é dada pela nossa ideia de Jogo. Ela é operacionalizada e modelada por exercícios. Mas que exercícios?

Procurando simplificar! Para o treino ser verdadeiramente Especifico o que se deve estabelecer como premissa inicial é: como vou melhorar a organização da minha equipa! Toda a planificação micro ou macro está subordinada à ideia de a melhorar qualitativamente.
Emerge aqui a componente táctica (organização) como central (não confundir como mais importante), arrastando consigo todas as outras componentes. Numa modelação que se quer dinâmica e em que o gestor do processo entenda a natureza aleatória do jogo e as suas características. Procurando chegar à sua Ideia de jogo com a invenção de exercícios “abertos”, fazendo com que a Especificidade seja entendida como um conceito aberto à imprevisibilidade, ao aleatório, ao acaso,

Se, como referenciámos em artigos anteriores, é importante estabelecer princípios do Jogo para os quatro momentos, agora acentuamos a ideia de que a Especificidade é o “princípio dos princípios”. Sendo esta a trave mestra que suporta metodologicamente esta Periodização.

A mim soa-me muito estranho ouvir alguns colegas dizerem ao assistir a treinos de outros colegas que “este determinado exercício é bom e vou copiá-lo”! Cada ideia de jogo contém os seus princípios, sub-princípios e respectivas ligações. Estes são articulados através de exercícios Específicos (porque não há duas ideias de jogo iguais), e os feedbaks do treinador no acto de aprendizagem vão transmitir uma forte mensagem de conteúdo emocional que tornam estes momentos singulares.

Os exercícios por si nada valem! Podemos estar a fazer um 6x6 em espaço reduzido e sem a presença activa do treinador. Vamos assistir a um comportamento colectivo em função da forma como cada jogador interpreta este exercício (meramente situacional). Ou o mesmo exercício pode ser altamente Específico em função do direccionamento e intencionalidade que o treinador transmite antes, durante e depois do exercício.

Esta intencionalidade do treinador em perseguir a sua Ideia de Jogo, vai fazer com que, desde o primeiro dia de treino, os jogadores se adaptem, através de exercícios Específicos, a um processo de modelação do seu corpo (sistema muscular, orgânico e nervoso).

A Especificidade transmite a sua singularidade pelo facto de os exercícios inventados pelo treinador conferirem uma adaptação referenciada à sua ideia de jogo e a uma forte matriz emocional que o gestor imprime no acto de treinar.

Entende-se agora a noção de Especificidade (processo singular), bastante diferente de especificidade.
Quando falamos de especificidade estamos a referir-nos a um conceito que assume o somatório ou a justaposição do desenvolvimento das diversas dimensões (física, técnica, táctica, estratégica e psicológica).
A Especificidade é um processo singular! Ao falarmos de Especificidade falamos do Todo, na relação dinâmica de interdependência entre todas as dimensões e na qual cada uma não existe sem as outras

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ténis de Mesa na Escola: Desdobrável de promoção

Mais uma excelente iniciativa do resendense Prof. Aquilino Rocha Pinto, fundador e presidente da Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu.

É um documento pedagógico da Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu, com sede em S. Martinho de Mouros, que pretende promover e dar a conhecer esta modalidade lúdica e desportiva e será distribuída pelas escolas, autarquias, clubes e instituições dos Distritos de Viseu e da Guarda, podendo ser lida e imprimida em: http://www.scribd.com/doc/44786471/Promocao-Tenis-de-Mesa

sábado, 4 de dezembro de 2010

Futebol: Modelo de jogo (Carlos Carvalhal)


Modelo de jogo é um conceito muitas vezes utilizado no futebol! Mas será que a esmagadora maioria das pessoas que o utiliza sabe verdadeiramente do que está a falar?

Recordo uma frase de um treinador de uma equipa após uma derrota: “Temos que começar a jogar à Porto…” Os adeptos nunca lhe perdoaram esta expressão! Conclusão: em pouco tempo teve que sair do clube!



Como é que isto se relaciona com o Modelo de Jogo? Já vamos perceber!

O Modelo de Jogo não é conjuntural, é essencialmente estrutural! Um treinador ao ser contratado, está a transportar as suas ideias para uma estrutura existente (ela existe por muito fraca que seja)! Um imperativo nesta profissão, é ter a capacidade de analisar muito bem o contexto onde se vai inserir: clube, relações entre pessoas, adeptos, meio social, político, local, regional, nacional, os costumes, as crenças, a história do clube e as suas melhores épocas, o sistema predominante nos anos de sucesso, as últimas equipas e jogadores, os jogadores que têm ao dispor, os que pode contratar, entre outras… só depois poderá definir um Modelo de Jogo.

Estive muito recentemente num País Europeu onde assisti a dois jogos. A pressão exterior era enorme, os adeptos faziam realmente muito barulho, são extremamente emocionais. Em várias situações percebi claramente a intenção de um jogador querer lateralizar um passe, tendo sido incrível o condicionamento provocado pelos adeptos, quase que o “obrigando” a jogar na vertical!

Acham que ao perceber o envolvimento, o treinador não deverá ter estes aspectos em atenção?! Claro que sim! Procurar jogadores com forte personalidade, trabalhar a sua mente para terem a capacidade de se imunizar ao envolvimento.

Recordam-se da infeliz expressão de um colega meu sobre o jogar “à Porto”? Em muitos clubes não teria eco! Mas foi proferida num clube com adeptos com muita paixão, um clube com forte identidade e elevada exigência, sendo para estes incompreensível modificar a sua matriz.
Perceber a história do clube, a sua personalidade e sua força social é fulcral para ter êxito!

Outro exemplo, este vivenciado por mim! Da análise prévia que fiz ao contexto do Vitória de Setúbal e do Leixões, fez-me chegar a algumas conclusões importantes. Eis apenas algumas delas: Importante e significativa massa crítica por parte dos seus (apaixonados) adeptos, carregados de amor clubístico, com uma participação extremamente activa (para o melhor e pior), tanto nos jogos em casa como fora; percebi claramente quais as estruturas tácticas e dinâmicas utilizadas nas suas melhores épocas; nestes períodos ambos os clubes tinham nos seus planteis uma base importante e significativa de jogadores oriundos da sua formação; havia uma valorização de jogadores mais sobre o aspecto técnico do que outra capacidade; necessidade de escolher jogadores com forte personalidade (não é qualquer jogador que joga no Vitória ou no Leixões); ganhar não chegava, tinha que se jogar bem…

Concordam comigo quando refiro que todos estes aspectos são importantíssimos para definir um Modelo de Jogo? A escolha de jogadores dentro de um conjunto de características, devem por um lado ir ao encontro das ideias do treinador, e ao mesmo tempo perceber a filosofia, história e cultura do clube! Não só porque estão melhor preparados para o envolvimento, como podem ser veículos de transmissão para os outros jogadores. Em ambos os clubes procurámos jogadores da sua formação, e creio não estar enganado ao referir que no ano da subida de divisão do Vitória tínhamos 13 jogadores da formação, no Leixões 14.

Como escolher o sistema de jogo? Recordo o que aconteceu quando ainda jogava no Espinho, na 1ª divisão! Os melhores anos deste clube tinham sido orientados por Quinito, jogando preferencialmente em 1.4.3.3, com dois extremos bem “abertos” nas linhas laterais. Um treinador em determinada altura optou por jogar em 1.4.4.2! Pois bem, para além dos jogadores terem que se adaptar a esse novo sistema, o treinador teve ainda a dificuldade de ter que lidar com a pressão dos adeptos que diziam que faltava um jogador ali, e outro acolá! Conclusão: acabou por mudar rapidamente para o sistema mais tradicional no clube.

Adivinho o que estão a pensar! O treinador deveria ter personalidade e impor as suas ideias! Concordo em parte, mas erro maior é contrariar a história do clube… experimentem ir para o Atlético de Bilbau e proponham a contratação de um jogador que não seja da região Basca!

A cultura, os hábitos e costumes devem ser cuidadosamente analisados pelo treinador na definição de um Modelo de Jogo, e muitas vezes os pormenores podem fazer toda a diferença! Será que, por exemplo, no caso do Espinho, as dimensões do campo também possam estar relacionados com a definição do Modelo de Jogo? Campo mais pequeno, adversários mais fechados na zona central, logo a necessidade de ter “campo grande “ a atacar e de criar desequilíbrios pelos corredores, tornou-se cultural. A procura de jogadores com determinadas características para uma estrutura tornou-se um imperativo, desenvolveram-se relações colectivas e emocionais, criou-se um Modelo de Jogo.

Vamos então falar do Modelo de Jogo adoptado… como assim? Ouço e leio muitas vezes esta expressão! Isso não existe! O Modelo de jogo idealizado, parece-me a expressão mais adequada! Não existem dois Modelos de Jogo iguais, logo não acho correcto falar em adopção de um Modelo. Isto será o mesmo que dizer que só existe um futebol… existem muitos futebóis! O Real Madrid Joga igual ao Barcelona?! O Porto joga igual ao Benfica?!

Modelo de Jogo idealizado, porquê? Porque é aquilo a que aspiramos jogar, aspiramos porque nunca chegamos a atingir! O Modelo idealizado está permanentemente a ser construído e reconstruído. Definimos princípios e sub-princípios para cada momento de jogo! Quando pensamos que estão consolidados e estamos a melhorar outros, no jogo seguinte aqueles que momentaneamente “abandonamos” deixam de se manifestar com eficiência.

O jogo tem um fluxo contínuo! Quando falamos em princípios de Jogo, falamos da sua articulação, não só entre si como também na relação e articulação com os sub-princípios e concomitantemente a articulação entre estes. Nisto, o treinador deve revelar-se como um gestor do processo, na necessidade de hierarquizar os princípios e sub-princípios (e ainda os sub dos sub-princípios…), de modelar comportamentos através da inovação de exercícios, incutindo uma forte matriz emocional, sem nunca perder o sentido do Todo no “desmontar” desse mesmo Todo, de forma a reduzir sem empobrecer. Isto é, temos um problema para resolver na equipa, queremos treinar sobre um grande princípio e enfatizar as relações com os sub–princípios! Ao organizar a unidade de treino devemos ter cuidado de não perder o sentido do Todo, ao “fraccionar” o jogo para inovar determinado exercício.

A matriz emocional do treinador no processo transmite a sua singularidade. Ele é único, os clubes, as equipas, os jogadores são todos diferentes. Num processo que deve ser de ensino-aprendizagem emerge a figura do treinador, na gestão e modelação de comportamentos e emoções, direccionando-os intencionalmente para a sua Ideia de Jogo, que é única, logo singular.

Cumpre ao treinador gestor fazer evoluir a sua ideia, através da sua sensibilidade, para detectar onde o processo está a crescer ou a “mirrar”, que relação entre princípios e entre estes e os sub-princípios deve acentuar, num processo extremamente dinâmico. Assim o Modelo de Jogo cresce, configurando um Todo muito mais do que a soma das partes.

Podemos dizer que o Modelo de Jogo é algo utópico, podemos andar lá perto mas nunca se alcança! Está em permanente evolução e reconstrução, até porque o “descobrir” as capacidades e deficiências dos nossos próprios jogadores, leva a que muitas vezes se enriqueça ou empobreça o Modelo inicial que idealizamos.

Mourinho referiu no final do jogo com o Real Madrid que o Barcelona é um projecto acabado e que o Real Madrid está a dar os primeiros passos! Concordo e entendo esta expressão, apenas acrescento que sendo um projecto acabado, não quer dizer que não possa evoluir ou regredir. Acabado na completa interpretação dos princípios e sub-princípios de Jogo muito bem definidos - completamente de acordo! A manutenção e evolução dependem em primeira instância da qualidade do treino, depois dos jogos e as suas incidências!
Esta abordagem ao Barcelona x Real Madrid não foi inocente! Defrontaram-se claramente duas equipas com Filosofias de clube completamente diferentes, que como referimos anteriormente se manifestam no Modelo de Jogo.
De um lado o Barcelona, com um Modelo de Jogo de clube, contratando treinadores dentro desta ideia, que possam acrescentar algo à ideia original! Ideia e Modelo que vem da formação, que tem anos e que representa muito do que é a Catalunha, o seu fervor regional. Princípios e sub-princípios de Jogo bem definidos desde a base até aos seniores! A procura de jogadores de fino recorte técnico, que possam integrar uma Ideia estrutural.

Por outro lado, ainda um projecto de autor (como creio ter referido Valdano)! Com uma Filosofia claramente diferente, mais virada para o exterior e para a mediatização. Ideia que Mourinho (o autor) procura contrariar, criando uma estrutura desde a base até aos seniores, de forma a ter futuramente um projecto de clube, o ser Real Madrid desde a cantera… isto é um Modelo diferente e por ser diferente não se vai modificar na 2ª parte do jogo… vai demorar anos a implementar

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Futebol: Marco Duarte - estreia-se na baliza do Sporting de Lamego

Marco é um produto da formação do G.D.Resende. Iniciou a sua carreira nos infantis do clube azul e branco em 2000/2001 pela mão do mister Jorge Rabaça:

"...tinha intenção de jogar a lateral, mas no primeiro treino vi que só tínhamos 1 guarda-redes, então decidi ir para a baliza e nunca mais de lá saí..."

Marco percorreu todos os escalões de formação, teve ainda como treinadores, José Ferreira e José Rabaça. Todos estes treinadores atribuíram-lhe sempre a braçadeira de capitão, o que demonstra a sua personalidade e maturidade. Em 2006/2007 atingiu a idade de júnior, mas a sua excessiva qualidade na baliza, catapultou-o directamente para os seniores. Foram 3 épocas a alternar a baliza com colegas mais velhos e experientes, um feito muito bom para quem tinha ainda idade para estar nos juniores.

Na época passada, 2009/2010, passou de promessa a certeza e foi titularíssimo na baliza do G.D.Resende, sendo o 2º guarda-redes menos batido da prova. O excelente trabalho técnico que o treinador de guarda-redes Sandro Lage fez consigo, aliado à persistência, motivação, capacidade de superação e espírito de sacrifício, deste jovem guardião, promoveram uma grande evolução técnica e psicológica.

Esta época chegou ao Sporting de Lamego e tem lutado pelo seu espaço. Fez a sua estreia, para a taça de A.F.Viseu, frente ao Paivense no estádio dos Remédios. 

Vários têm sido os convites feitos, ao Marco, para sair e passar a jogar com regularidade. Mesmo sentindo-se tentado, em alguns deles, o seu objectivo em chegar à titularidade tem falado mais alto. Por sua vez o próprio Sporting de Lamego também não se tem mostrado muito disponível para abrir mão de um guarda-redes tão jovem e com tanta competência.


Não só como ex-treinador, mas também como amigo e resendense, desejo ao Marco sorte, porque trabalhar sei que ele o faz como ninguém, independentemente se está a jogar, se está no banco ou na bancada...