Na próxima época que classificação conseguirá o FC Paços Gaiolo?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Futebol: Jaime Pacheco o melhor treinador da China


Regressar a Portugal, para já, está fora de questão. Jaime Pacheco resistiu enquanto pôde, mas para “recuperar a auto-estima” foi obrigado a abandonar o país. Agora, confessa que se soubesse o que sabe hoje “tinha emigrado há 10 anos” e admite estar ansioso para voltar, no início de Janeiro, para a China para recomeçar uma nova época depois de ter sido considerado o melhor treinador do campeonato em 2011.
Está quase a fazer um ano que se mudou para a China. Que balanço faz?
A melhor resposta que posso dar é que renovei por mais dois anos.

Mas teve a possibilidade de renovar por quatro...
Tive. No ano passado assinei por um ano e podia ter assinado por dois. Uma coisa de cada vez. Tenho a intenção de continuar por mais anos, mas assim estou mais tranquilo. Depois vê-se...

O que o levou a aceitar este projecto?
Eu não sabia o que ia encontrar. Antes de ir para a China tive uma experiência positiva na Arábia Saudita, mas foi difícil. As pessoas tratavam-me bem, mas a cultura era diferente. Tive dificuldades em adaptar-me. Na China as diferenças são poucas e há qualidade de vida. Adaptei-me muito bem.

O que mais o surpreendeu?
As pessoas. São afáveis, gostam de dar e são hospitaleiras. Tinha uma ideia diferente. Estão sempre preocupados comigo. Há simpatia e são honestos. É verdade que sinto falta da comida portuguesa e do mar, mas o meu presidente já me deu três presuntos Pata Negra (risos).

A China é considerada uma ditadura. Como é viver em Pequim?
Se existe ditadura, eu nunca me apercebi. As pessoas têm respeito e isso devia existir em todos os países. Se em termos políticos há alguma coisa escondida, não sei. Pode existir. Mas no dia-a-dia não vejo nada de anormal.

A China tem tido, até agora, um papel menor no futebol mundial. Isso está a mudar? O Shanghai contratou o Anelka...
Estão a contratar jogadores com nomes sonantes e a China começa a ser um mercado atractivo. Da primeira para a segunda fase do campeonato senti uma melhoria. Há evolução. A entrada de jogadores de renome internacional vai trazer qualidade e dar visibilidade ao campeonato. Mas na China já há bons jogadores...

Com qualidade para jogar num “grande” do futebol português?
Sim, para jogar em qualquer equipa. Eu tenho um jogador que já tem 30 anos, mas jogava no FC Porto, Benfica ou Sporting. Tem uma técnica fantástica. Faz-me lembrar o Timofte. Há jogadores com uma qualidade excepcional.

Em 2012 vai ter condições para lutar pelo título?
Eu tenho o azar de nunca estar em clubes grandes a nível de condições financeiras. No ano passado saíram dois dos três internacionais chineses da equipa. O único internacional agora é o guarda-redes e também pode sair. Temos que ser realistas. Os outros estão a fazer um grande investimento e repetir 2011 já era muito bom.

Há uns anos disse que não tinha “feitio” de emigrante. Já tem?
A vida dá tantas voltas... Se soubesse o que sei hoje tinha emigrado há 10 anos. Como jogador tive essa possibilidade e nunca quis sair. Sair de uma aldeia para o Porto já foi, na altura, um passo grande e depois ir para Lisboa maior ainda. Agora, a pensar na minha família, tive que ganhar coragem e partir. Na Arábia Saudita houve dificuldades, mas com mais ou menos choro ultrapassou-se os problemas. Depois, como tenho um espírito forte, mentalizei-me que o que surgir lá fora é para realização pessoal e profissional. Também criei anticorpos em Portugal e a certa altura comecei a perceber que estava a mais. Para recuperar a auto-estima tive que sair.

Está zangado com o futebol português?
Não estou zangado, estou triste e decepcionado. Sinto que em Portugal para se conseguir trabalhar é preciso baixar a cabeça a muitas coisas. Eu não o fiz. Se calhar prejudiquei-me como trabalhador, mas como homem entendi que devia defender determinados direitos e valores.

O Manuel José e o Fernando Santos também tiveram que emigrar...
E o Peseiro... É um fenómeno que gostava que fosse mais estudado. São pessoas que podiam dar muito ao futebol português. Também acontece com jogadores. Lembro-me que o Nani no Sporting era assobiado e agora é respeitado em todo o lado. Às vezes, é preciso sair do nosso cantinho para sermos respeitados. Nós, os portugueses, somos muito invejosos. Quando alguém aparece com uma camisa nova vêm sempre os velhos do Restelo criticarem.

Quais são as diferenças entre o treinador campeão nacional em 2001 e o melhor treinador do campeonato chinês em 2011?
Acho que sou o mesmo. Na altura tinha qualidades das quais tirei partido e se calhar tinha defeitos que já não tenho. Estou mais maduro. Já não tenho o coração tão perto da boca.

Quando chegou a Pequim era pouco conhecido. Agora, após ser considerado o melhor treinador do campeonato, tem mais responsabilidades?
Não. Uns dias antes de assinar, quando já estava na China, recebi uma notícia desagradável sobre um problema de saúde da minha esposa. Isso afectou-me e pedi uns dias para pensar antes de assinar. A partir desse momento não me largaram mais. Mostraram-se disponíveis para tudo e para levar a minha mulher para lá, pagando tudo. E ainda não tinha assinado contrato. Voltei para Portugal e eles telefonavam-me todos os dias, mostrando disponibilidade e apoio total. E eu pensei: há tantos treinadores no mundo e estão tão interessados em mim? Isso influenciou muito a minha decisão. Em Julho, a meio do campeonato, já queriam renovar. Quando cheguei havia quem dissesse que eu ia ficar dois ou três meses...

Tem acompanhado o campeonato português?
Não. Só as competições internacionais. Na China não passa nada do futebol português. Só através da internet...

Quem está mais bem servido de treinador? FC Porto, Benfica ou Sporting?
Não era ético fazer essa avaliação. Mas em Portugal há dificuldades para trabalhar e os treinadores têm que se sujeitar ao que têm. Em qualidade de jogadores Portugal perdeu muito. Os jogadores de segunda linha fugiram à procura de uma vida melhor. Em Portugal ganha-se pouco e muitas vezes não se recebe. Esse é o grande cancro do futebol. Os treinadores têm que estar preocupados com o dia-a-dia e têm que fazer de pai, psicólogo e amigo para entenderem o estado de espírito dos jogadores. Portugal está a passar uma fase difícil e os adeptos às vezes não são compreensivos.

Treinar um “grande” ainda está no seu horizonte?
Nunca me preocupei com isso e tive essa oportunidade. Se gostava? Gostava. Se tenho capacidades? Isso nem se questiona. Quem sabe no futuro. Mas hoje não trocava o projecto na China para regressar a Portugal. Se um dos clubes “grandes” me convidasse agora eu não aceitava. Como já aconteceu antes, não viro as costas a quem me tratou bem e respeitou. Já vi jogadores a beijarem a camisola, outros a prometer fidelidade, como prometeu o Villas-Boas e depois... É desagradável. Eu nunca fiz isso nem vou fazer. Há valores que são mais importantes para mim do que o aspecto financeiro. Não vinha para Portugal agora. Tenho saudades e sou patriota, mas fui bem recebido lá e vou manter-me fiel.
Regressar a Portugal, para já, está fora de questão. Jaime Pacheco resistiu enquanto pôde, mas para “recuperar a auto-estima” foi obrigado a abandonar o país. Agora, confessa que se soubesse o que sabe hoje “tinha emigrado há 10 anos” e admite estar ansioso para voltar, no início de Janeiro, para a China para recomeçar uma nova época depois de ter sido considerado o melhor treinador do campeonato em 2011.
Está quase a fazer um ano que se mudou para a China. Que balanço faz?
A melhor resposta que posso dar é que renovei por mais dois anos.

Mas teve a possibilidade de renovar por quatro...
Tive. No ano passado assinei por um ano e podia ter assinado por dois. Uma coisa de cada vez. Tenho a intenção de continuar por mais anos, mas assim estou mais tranquilo. Depois vê-se...

O que o levou a aceitar este projecto?
Eu não sabia o que ia encontrar. Antes de ir para a China tive uma experiência positiva na Arábia Saudita, mas foi difícil. As pessoas tratavam-me bem, mas a cultura era diferente. Tive dificuldades em adaptar-me. Na China as diferenças são poucas e há qualidade de vida. Adaptei-me muito bem.

O que mais o surpreendeu?
As pessoas. São afáveis, gostam de dar e são hospitaleiras. Tinha uma ideia diferente. Estão sempre preocupados comigo. Há simpatia e são honestos. É verdade que sinto falta da comida portuguesa e do mar, mas o meu presidente já me deu três presuntos Pata Negra (risos).

A China é considerada uma ditadura. Como é viver em Pequim?
Se existe ditadura, eu nunca me apercebi. As pessoas têm respeito e isso devia existir em todos os países. Se em termos políticos há alguma coisa escondida, não sei. Pode existir. Mas no dia-a-dia não vejo nada de anormal.

A China tem tido, até agora, um papel menor no futebol mundial. Isso está a mudar? O Shanghai contratou o Anelka...
Estão a contratar jogadores com nomes sonantes e a China começa a ser um mercado atractivo. Da primeira para a segunda fase do campeonato senti uma melhoria. Há evolução. A entrada de jogadores de renome internacional vai trazer qualidade e dar visibilidade ao campeonato. Mas na China já há bons jogadores...

Com qualidade para jogar num “grande” do futebol português?
Sim, para jogar em qualquer equipa. Eu tenho um jogador que já tem 30 anos, mas jogava no FC Porto, Benfica ou Sporting. Tem uma técnica fantástica. Faz-me lembrar o Timofte. Há jogadores com uma qualidade excepcional.

Em 2012 vai ter condições para lutar pelo título?
Eu tenho o azar de nunca estar em clubes grandes a nível de condições financeiras. No ano passado saíram dois dos três internacionais chineses da equipa. O único internacional agora é o guarda-redes e também pode sair. Temos que ser realistas. Os outros estão a fazer um grande investimento e repetir 2011 já era muito bom.

Há uns anos disse que não tinha “feitio” de emigrante. Já tem?
A vida dá tantas voltas... Se soubesse o que sei hoje tinha emigrado há 10 anos. Como jogador tive essa possibilidade e nunca quis sair. Sair de uma aldeia para o Porto já foi, na altura, um passo grande e depois ir para Lisboa maior ainda. Agora, a pensar na minha família, tive que ganhar coragem e partir. Na Arábia Saudita houve dificuldades, mas com mais ou menos choro ultrapassou-se os problemas. Depois, como tenho um espírito forte, mentalizei-me que o que surgir lá fora é para realização pessoal e profissional. Também criei anticorpos em Portugal e a certa altura comecei a perceber que estava a mais. Para recuperar a auto-estima tive que sair.

Está zangado com o futebol português?
Não estou zangado, estou triste e decepcionado. Sinto que em Portugal para se conseguir trabalhar é preciso baixar a cabeça a muitas coisas. Eu não o fiz. Se calhar prejudiquei-me como trabalhador, mas como homem entendi que devia defender determinados direitos e valores.

O Manuel José e o Fernando Santos também tiveram que emigrar...
E o Peseiro... É um fenómeno que gostava que fosse mais estudado. São pessoas que podiam dar muito ao futebol português. Também acontece com jogadores. Lembro-me que o Nani no Sporting era assobiado e agora é respeitado em todo o lado. Às vezes, é preciso sair do nosso cantinho para sermos respeitados. Nós, os portugueses, somos muito invejosos. Quando alguém aparece com uma camisa nova vêm sempre os velhos do Restelo criticarem.

Quais são as diferenças entre o treinador campeão nacional em 2001 e o melhor treinador do campeonato chinês em 2011?
Acho que sou o mesmo. Na altura tinha qualidades das quais tirei partido e se calhar tinha defeitos que já não tenho. Estou mais maduro. Já não tenho o coração tão perto da boca.

Quando chegou a Pequim era pouco conhecido. Agora, após ser considerado o melhor treinador do campeonato, tem mais responsabilidades?
Não. Uns dias antes de assinar, quando já estava na China, recebi uma notícia desagradável sobre um problema de saúde da minha esposa. Isso afectou-me e pedi uns dias para pensar antes de assinar. A partir desse momento não me largaram mais. Mostraram-se disponíveis para tudo e para levar a minha mulher para lá, pagando tudo. E ainda não tinha assinado contrato. Voltei para Portugal e eles telefonavam-me todos os dias, mostrando disponibilidade e apoio total. E eu pensei: há tantos treinadores no mundo e estão tão interessados em mim? Isso influenciou muito a minha decisão. Em Julho, a meio do campeonato, já queriam renovar. Quando cheguei havia quem dissesse que eu ia ficar dois ou três meses...

Tem acompanhado o campeonato português?
Não. Só as competições internacionais. Na China não passa nada do futebol português. Só através da internet...

Quem está mais bem servido de treinador? FC Porto, Benfica ou Sporting?
Não era ético fazer essa avaliação. Mas em Portugal há dificuldades para trabalhar e os treinadores têm que se sujeitar ao que têm. Em qualidade de jogadores Portugal perdeu muito. Os jogadores de segunda linha fugiram à procura de uma vida melhor. Em Portugal ganha-se pouco e muitas vezes não se recebe. Esse é o grande cancro do futebol. Os treinadores têm que estar preocupados com o dia-a-dia e têm que fazer de pai, psicólogo e amigo para entenderem o estado de espírito dos jogadores. Portugal está a passar uma fase difícil e os adeptos às vezes não são compreensivos.

Treinar um “grande” ainda está no seu horizonte?
Nunca me preocupei com isso e tive essa oportunidade. Se gostava? Gostava. Se tenho capacidades? Isso nem se questiona. Quem sabe no futuro. Mas hoje não trocava o projecto na China para regressar a Portugal. Se um dos clubes “grandes” me convidasse agora eu não aceitava. Como já aconteceu antes, não viro as costas a quem me tratou bem e respeitou. Já vi jogadores a beijarem a camisola, outros a prometer fidelidade, como prometeu o Villas-Boas e depois... É desagradável. Eu nunca fiz isso nem vou fazer. Há valores que são mais importantes para mim do que o aspecto financeiro. Não vinha para Portugal agora. Tenho saudades e sou patriota, mas fui bem recebido lá e vou manter-me fiel.
Regressar a Portugal, para já, está fora de questão. Jaime Pacheco resistiu enquanto pôde, mas para “recuperar a auto-estima” foi obrigado a abandonar o país. Agora, confessa que se soubesse o que sabe hoje “tinha emigrado há 10 anos” e admite estar ansioso para voltar, no início de Janeiro, para a China para recomeçar uma nova época depois de ter sido considerado o melhor treinador do campeonato em 2011.

Está quase a fazer um ano que se mudou para a China. Que balanço faz?
A melhor resposta que posso dar é que renovei por mais dois anos.

Mas teve a possibilidade de renovar por quatro...
Tive. No ano passado assinei por um ano e podia ter assinado por dois. Uma coisa de cada vez. Tenho a intenção de continuar por mais anos, mas assim estou mais tranquilo. Depois vê-se...

O que o levou a aceitar este projecto?
Eu não sabia o que ia encontrar. Antes de ir para a China tive uma experiência positiva na Arábia Saudita, mas foi difícil. As pessoas tratavam-me bem, mas a cultura era diferente. Tive dificuldades em adaptar-me. Na China as diferenças são poucas e há qualidade de vida. Adaptei-me muito bem.

O que mais o surpreendeu?
As pessoas. São afáveis, gostam de dar e são hospitaleiras. Tinha uma ideia diferente. Estão sempre preocupados comigo. Há simpatia e são honestos. É verdade que sinto falta da comida portuguesa e do mar, mas o meu presidente já me deu três presuntos Pata Negra (risos).

A China é considerada uma ditadura. Como é viver em Pequim?
Se existe ditadura, eu nunca me apercebi. As pessoas têm respeito e isso devia existir em todos os países. Se em termos políticos há alguma coisa escondida, não sei. Pode existir. Mas no dia-a-dia não vejo nada de anormal.

A China tem tido, até agora, um papel menor no futebol mundial. Isso está a mudar? O Shanghai contratou o Anelka...
Estão a contratar jogadores com nomes sonantes e a China começa a ser um mercado atractivo. Da primeira para a segunda fase do campeonato senti uma melhoria. Há evolução. A entrada de jogadores de renome internacional vai trazer qualidade e dar visibilidade ao campeonato. Mas na China já há bons jogadores...

Com qualidade para jogar num “grande” do futebol português?
Sim, para jogar em qualquer equipa. Eu tenho um jogador que já tem 30 anos, mas jogava no FC Porto, Benfica ou Sporting. Tem uma técnica fantástica. Faz-me lembrar o Timofte. Há jogadores com uma qualidade excepcional.

Em 2012 vai ter condições para lutar pelo título?
Eu tenho o azar de nunca estar em clubes grandes a nível de condições financeiras. No ano passado saíram dois dos três internacionais chineses da equipa. O único internacional agora é o guarda-redes e também pode sair. Temos que ser realistas. Os outros estão a fazer um grande investimento e repetir 2011 já era muito bom.

Há uns anos disse que não tinha “feitio” de emigrante. Já tem?
A vida dá tantas voltas... Se soubesse o que sei hoje tinha emigrado há 10 anos. Como jogador tive essa possibilidade e nunca quis sair. Sair de uma aldeia para o Porto já foi, na altura, um passo grande e depois ir para Lisboa maior ainda. Agora, a pensar na minha família, tive que ganhar coragem e partir. Na Arábia Saudita houve dificuldades, mas com mais ou menos choro ultrapassou-se os problemas. Depois, como tenho um espírito forte, mentalizei-me que o que surgir lá fora é para realização pessoal e profissional. Também criei anticorpos em Portugal e a certa altura comecei a perceber que estava a mais. Para recuperar a auto-estima tive que sair.

Está zangado com o futebol português?
Não estou zangado, estou triste e decepcionado. Sinto que em Portugal para se conseguir trabalhar é preciso baixar a cabeça a muitas coisas. Eu não o fiz. Se calhar prejudiquei-me como trabalhador, mas como homem entendi que devia defender determinados direitos e valores.

O Manuel José e o Fernando Santos também tiveram que emigrar...
E o Peseiro... É um fenómeno que gostava que fosse mais estudado. São pessoas que podiam dar muito ao futebol português. Também acontece com jogadores. Lembro-me que o Nani no Sporting era assobiado e agora é respeitado em todo o lado. Às vezes, é preciso sair do nosso cantinho para sermos respeitados. Nós, os portugueses, somos muito invejosos. Quando alguém aparece com uma camisa nova vêm sempre os velhos do Restelo criticarem.

Quais são as diferenças entre o treinador campeão nacional em 2001 e o melhor treinador do campeonato chinês em 2011?
Acho que sou o mesmo. Na altura tinha qualidades das quais tirei partido e se calhar tinha defeitos que já não tenho. Estou mais maduro. Já não tenho o coração tão perto da boca.

Quando chegou a Pequim era pouco conhecido. Agora, após ser considerado o melhor treinador do campeonato, tem mais responsabilidades?
Não. Uns dias antes de assinar, quando já estava na China, recebi uma notícia desagradável sobre um problema de saúde da minha esposa. Isso afectou-me e pedi uns dias para pensar antes de assinar. A partir desse momento não me largaram mais. Mostraram-se disponíveis para tudo e para levar a minha mulher para lá, pagando tudo. E ainda não tinha assinado contrato. Voltei para Portugal e eles telefonavam-me todos os dias, mostrando disponibilidade e apoio total. E eu pensei: há tantos treinadores no mundo e estão tão interessados em mim? Isso influenciou muito a minha decisão. Em Julho, a meio do campeonato, já queriam renovar. Quando cheguei havia quem dissesse que eu ia ficar dois ou três meses...

Tem acompanhado o campeonato português?
Não. Só as competições internacionais. Na China não passa nada do futebol português. Só através da internet...

Quem está mais bem servido de treinador? FC Porto, Benfica ou Sporting?
Não era ético fazer essa avaliação. Mas em Portugal há dificuldades para trabalhar e os treinadores têm que se sujeitar ao que têm. Em qualidade de jogadores Portugal perdeu muito. Os jogadores de segunda linha fugiram à procura de uma vida melhor. Em Portugal ganha-se pouco e muitas vezes não se recebe. Esse é o grande cancro do futebol. Os treinadores têm que estar preocupados com o dia-a-dia e têm que fazer de pai, psicólogo e amigo para entenderem o estado de espírito dos jogadores. Portugal está a passar uma fase difícil e os adeptos às vezes não são compreensivos.

Treinar um “grande” ainda está no seu horizonte?
Nunca me preocupei com isso e tive essa oportunidade. Se gostava? Gostava. Se tenho capacidades? Isso nem se questiona. Quem sabe no futuro. Mas hoje não trocava o projecto na China para regressar a Portugal. Se um dos clubes “grandes” me convidasse agora eu não aceitava. Como já aconteceu antes, não viro as costas a quem me tratou bem e respeitou. Já vi jogadores a beijarem a camisola, outros a prometer fidelidade, como prometeu o Villas-Boas e depois... É desagradável. Eu nunca fiz isso nem vou fazer. Há valores que são mais importantes para mim do que o aspecto financeiro. Não vinha para Portugal agora. Tenho saudades e sou patriota, mas fui bem recebido lá e vou manter-me fiel.